O que é a distância?
Perguntaram certa
vez para uma menininha de 6 anos, e ela respondeu:
- Distância?
Hum...distância é...
é...
Pensou pensou... e
disse:
- É tanta coisa...
Menina mas tanta
coisa é muita coisa, o que é a distância?
Ela retomou:
- Distância é tudo
que tem até a casa da minha amiga.
Nossa! Distância é
muita coisa.
Distância é do meu
pé, até minha cabeça.
Distância é da
ponta de uma montanha até o chão lá embaixo.
Distância é da lua
até o sol, e até a lua de novo e depois até o sol.
Distância é eu na
escola e minha mãe no trabalho.
Distância é minha
vó no céu, e eu aqui na terra.
Daqui de mim, até
você ai, é distância né?
Do meu dedinho até
o meu dedão é uma distância eu acho...
Já ouvi gente dizer
que tem muita distância do que a gente quer pra o que a gente pode,
Então não dá pra
pegar a distância? Tô certa moço? Tô te falando que é muita coisa...
Quantos anos o
senhor tem? – perguntou ela.
-Trinta e dois, por
que?
- Eu tenho seis, e
pra eu chegar nos trinta e dois acho que também tem distância.
E a tristeza? O que
é a tristeza pra você? – pergunta o pesquisador.
E a menina
silencia...
- Você não sabe? Ou
não quer responder?
Ela balançou a
cabeça negativamente... - Não sabe? Perguntou novamente o rapaz.
Ela balançou
positivamente...
Está bem... Se não
sabe não precisa responder.
Ela olhou nos seus
olhos, juntou as mãozinhas pequenas e meio tímida disse:
- Tristeza não tem
explicação.
Com uma resposta
tão profunda, o pesquisador ficou meio sem o que dizer, e sem graça perguntou:
- Você acha mesmo? Quando você está triste, não sabe dizer por que tá triste?
Ela responde...
- Sei porque, mas
não sei explicar. Se minha vó vai embora e não volta, igual outro dia, eu
choro, eu tenho tristeza, e não sei explicar, minha boneca caiu na água sabe...
estragou! Era a única boneca que eu tinha e nunca mais ela falou comigo, nunca
mais! Ela falava... Fiquei triste... não sei te falar como é. Cai água dos
olhos, dá dor aqui ó, no meio do peito, da vontade de sumir. Da raiva... dá
muita raiva. Tristeza não é nada bom moço. Tristeza é mal. É bem do mal. Igual
jiló, igual cebola, igual vara nas pernas quando a mãe fica brava. Eu não
gosto... nem...nem nem um pouquinho.
- Você é grande,
gente grande não tem tristeza tem? Você tem bonecas?
E ele silenciou...
Por um momento
achou bom que ela pensasse que gente grande não tem tristeza. Gente grande é
feliz, gente grande tem futuro, tem alegria, e festa! Gente grande é o que há
de melhor.
E ele disse.
Você já sentiu
saudade de alguém?
- Saudade é igual
tristeza e distância, não gosto. Não gosto porque a saudade vem quando a gente
tá triste, quando não quer fazer alguma coisa, quando quer ficar olhando pro
céu e pensando em nada. A saudade me lembra as férias. Se tô na escola tenho
saudade das férias, se tô de férias tenho saudade da escola... O senhor só faz
pergunta difícil... Tenho seis anos e minha vó falava... “saudades da minha
infância”, eu respondia: “volta vó, volta pra infância... pra brincar comigo!”
e ela falava...”filhinha o tempo não volta atrás, fica de tudo um pouco de
saudade”. Você entendeu? Eu não entendi até hoje... um dia eu vou entender, ela
disse isso também. Mas a saudade dela é diferente da minha. A minha saudade é
das férias. Eu adoro férias. Quero brincar, não quero estudar todo dia... Quero
chamar a minha amiga e trocar minha boneca mil vezes, dar banho, lavar, passar,
fazer comidinha, bolo de barro, assustar os outros. Quero ver tv, andar de bicicleta
e jogar vídeo game, e nas férias eu posso fazer tudo isso, as vezes até viajo
pra casa de uns primos. Ah... eu sinto “saudade” das férias.
-Entendi...
respondeu o jovem e concluiu...
- Está bem mocinha,
você já me respondeu muito, pode voltar pra outra salinha e ficar com seus
irmãozinhos. Só me diz uma coisa... Como sabe tudo isso?
E ela disse:
- Eu sonho! E no
sonho eu tenho vó, eu tenho boneca que fala, eu tenho vídeo game, mãe,
amiguinha, saudade, distância, primos, e as vezes... tem dia que no sonho tem
tristeza também...
- Tchau moço. - Disse
a garotinha com um aceno de mãos.
Virou as costas e
se juntou as outras crianças do orfanato, que assim como ela, foram deixadas ali quando bebês.
escrito em 20/09/2013
publicado em 27/01/2014
publicado em 27/01/2014